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19 de Abril de 2024

Execução 'abala vida de fantasia' de traficantes brasileiros na Indonésia

Escritora australiana que expôs 'bolha' de hedonismo e drogas em paraíso de turistas vê na morte de Archer um aviso sombrio de mudança de tempos

Publicado por Dayany Louredo
há 9 anos

Nevando em Bali, livro que expõe em detalhes o submundo das drogas na mais famosa ilha do arquipélago que forma a Indonésia, chama a atenção não apenas pela descrição da mistura de crime e hedonismo no paraíso turístico que recebe mais de 2 milhões de visitantes por ano.

Muitos dos traficantes entrevistados pela escritora e jornalista australiana Kathryn Bonella para o livro eram brasileiros. Entre eles, Marco Archer, que no último sábado se tornou o primeiro brasileiro executado no exterior.

Para Bonella, no entanto, o mais significativo foi o fato de Archer ter sido também o primeiro ocidental a receber a pena de morte na Indonésia.

"Bolha"

Para a australiana, a morte estourou o que ela chama de "bolha da fantasia" para os brasileiros envolvidos com o tráfico no país.

"A morte de Marco foi decididamente o que se pode chamar do fim de uma fase. Sempre se soube que o tráfico na Indonésia é punido com a pena de morte, mas as autoridades indonésias jamais tinham ido até o fim na punição a ocidentais", afirma Bonella, em entrevista à BBC Brasil.

"Ao mesmo tempo que isso não vai acabar com o tráfico em Bali, eu imagino que muitos brasileiros vão pensar duas vezes diante da próxima oportunidade de contrabandear drogas para a Indonésia. Mas duvido que isso vá durar para sempre. Há uma grande demanda por drogas em Bali, é um lugar para onde turistas do mundo inteiro vão para se divertir sem os mesmos limites vistos na maioria dos lugares do mundo."

"Rafael", um dos traficantes brasileiros mais ativos em Bali, tinha uma mansão que contava com um trampolim para pular do quarto à piscina

Para Bonella, a frequência com que encontrou brasileiros envolvidos com o tráfico na Indonésia - de transportadores de droga a ricos intermediários entre os grandes barões - é explicada pelo perfil da maioria dos viajantes do país para o arquipélago.

"Os brasileiros que encontrei tinham basicamente o mesmo perfil. Eram surfistas que viram no tráfico, em especial de cocaína, uma chance de se manter em Bali e viver uma vida de fantasia, pegando ondas, indo a festas e encontrando belas mulheres. A proximidade do Brasil com os mercados produtores de cocaína na América do Sul ajuda no acesso à droga. E, ao contrário dos habitantes de muitos países, os brasileiros viajam normalmente pelo mundo", argumenta Bonella.

Perfil diferenciado

Outro fator que diferencia os traficantes brasileiros que a australiana encontrou na Indonésia é o perfil social.

"Eles eram todos de classe média, com escolaridade e conhecimento razoável de inglês. Entraram no tráfico pela curtição, não por uma necessidade econômica. Queriam viver tendo do bom e do melhor. Bem diferentes das 'mulas' (transportadores de droga), que recebem pouco dinheiro para muito risco. Um dos brasileiros que conheci em Bali podia ganhar uma fortuna com uma viagem bem-sucedida", conta a australiana.

Um dos grandes exemplos foi um carioca conhecido como "Rafael", um surfista que durante anos foi uma das principais engrenagens no tráfico de cocaína em Bali e que não fazia muita questão de esconder seus lucros: dava festas homéricas em sua mansão à beira-mar, onde uma das atrações era um trampolim do qual ele saltava de seu quarto diretamente para a piscina.

A pena capital para o tráfico não impediu a Indonésia de concentrar a circulação e o uso de drogas no Sudeste Asiático

Bonella esteve na Indonésia no fim de semana e acompanhou através da mídia e de relatos de contatos a execução de Marco Archer. Embora faça questão de criticar a opção do brasileiro pelo tráfico, a australiana disse ter ficado chocada com o desfecho de um dos personagens mais citados em Nevando em Bali - numa das passagens, Bonella conta que Archer dominava o fornecimento de maconha em Bali e tinha até registrado a marca de um tipo de erva que vendia, a Lemon Juice.

"Visitei Marco na prisão durante a pesquisa para o livro. Sabia o que ele estava fazendo e de maneira nenhuma endosso o tráfico. Mas ele era carismático e até cozinhou na prisão para mim, e parecia ter muitos amigos na Indonésia, pois recebi uma série de mensagens lamentando sua morte. Sou pessoalmente contra a pena capital, em especial a tortura psicológica que foi Marco ter vivido mais de dez anos com a possibilidade de execução pairando sobre sua cabeça."

Numa das visitas, Bonella foi apresentada a Rodrigo Gularte, o outro brasileiro condenado à morte e cuja execução poderá ocorrer ainda este ano. Foi no livro da australiana que veio à tona uma suposta tentativa de suicídio do brasileiro após o anúncio da sentença, em 2005.

"Não pude comprovar, mas me pareceu claro que Rodrigo tinha sido afetado de maneira bem diferente de Marco", disse.

'Mais perigoso'

A australiana disse não acreditar que a pressão internacional sofrida pela Indonésia nos últimos dias, inclusive com a retirada dos embaixadores de Brasil e Holanda (que também teve um cidadão executado no fim de semana), poderá mudar o destino do brasileiro e dois australianos também no corredor da morte.

"Não me parece que os protestos vão alterar a política de Joko Widodo (o presidente da Indonésia). Há um forte sentimento antidrogas entre a população local", avalia.

"Os traficantes devem estar assustados, mas o tráfico não vai parar. Há muita demanda, até porque a Indonésia é usada como centro de distribuição das drogas para outros países asiáticos e mesmo a Austrália. Só que agora os envolvidos sabem que a situação ficou ainda mais perigosa", opina Bonella.

Fonte: G1 - Globo. Com

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O enaltecimento do crime é o que faz a cúpula do governo brasileiro interferir nesta questão, posicionamento que incentiva ainda mais o crime no Brasil, fragiliza as instituições e programas ao seu combate deixando ainda mais vulnerável a população. continuar lendo

Este traficante não merece tanto esforço por parte do governo. A criminalidade que o tráfico de drogas representa trouxe para ele uma vida de luxo inigualável, que a grande maioria da população brasileira, que trabalha honestamente de sol a sol, levante cedo para ir ao trabalho e só volta à noite, jamais conseguiria trabalhando honestamente. Ele não era um pobre coitado, um excluído social, que vivia na marginalidade, sem educação, condição digna de vida. Ao contrário, era de classe média alta, e os crimes lhes trouxeram muito dinheiro, que é proporcional ao mal que as drogas ocasionam, que não se restringe ao vício, que por si mesmo já é suficientemente destrutivo, mas leva a outros crimes, furtos, roubos, assassinatos por dívidas (muito comum no meio do tráfico), formação de verdadeiras instituições no crime, nas quais se inserem adolescentes e até crianças. Enfim, o trafico de drogas é um mal que nos tem assolado gravemente. O traficante um ser inútil, parasita, que só causa destruição. A sociedade é formada de cidadãos que contribuem para o bem de todos, trabalham honestamente, apesar da corrupção que se alarga por todos os escalões e níveis nas estruturas estatais de poder, e em todos os poderes. Para viver em sociedade e usufruir dos bens que ela proporciona todos tem que contribuir, apesar da pobreza de nosso povo que aufere renda mínima na sua maioria. Todos os bens que usufruímos hoje, desde o alimento até os avanços no campo da tecnologia e medicina, foram proporcionados por pessoas que dedicaram esforço e dedicação, muitas nem ganharam o devido respaldo financeiro e de reconhecimento social. Para fazermos jus a eles, temos que fazer a nossa parte, e contribuir com o nosso trabalho. Agora eu pergunto. Com que justificativa, nós, a maioria, classe média que trabalha e paga imposto, tem que aceitar sustentar um elemento inútil e repugnante como um traficante de drogas, criminoso que vive exclusivamente da venda de tóxicos destrutíveis de vidas humanas, em um presídio, pagando ao mesmo alimentação, e todos os curtos de estadia? O que o Estado gasta com cada preso mensalmente, é muito mais que o trabalhador pai de família ganha com o suor de seu rosto.
O ideal era fazer esta pessoa trabalhar arduamente, como muitos de nossos compatriotas fazem todos os dias, para, pelo menos, arcar com os custos de seu sustento na penitenciária. Mas como isto é proibido pela Constituição, que proíbe o trabalho forçado do preso, não há mal algum a pena de morte. Muitos brasileiros trabalham forçadamente, em situações penosas e são honestas, porque não forçar o traficante a trabalhar honestamente na cadeia?
A vida nem é considerada o bem mais precioso pela Constituição, que autoriza a pena de morte no caso de guerra, para proteger a nação. Não há mal algum em tirar a vida de um ser pernicioso e prol e para benefício da maioria. Se em caso de guerra mata-se pessoas inocentes, porque não um bandido?
Afinal, para quem acredita em vida após a morte, ela não é nenhuma pena, pode ser até um alívio. Seria muito bom se, já que os presos não trabalham, na sua grande e esmagadora maioria, punir com pena de morte grandes traficantes e homicidas reincidentes. Que eles se submetam à justiça divina que é perfeita e não falha, para os que consideram desproporcional e injusta a pena de morte para bandidos. continuar lendo

Dayany, em outro artigo, não seu, tratando do tema, havia quem defendesse a extradição. Eu fui questionado por escrever que se expõe quem quer. Agora, uma questão se sobrepõe a todas as demais. Cada País é soberano ao estabelecer suas leis. Aqui, infelizmente as leis não se aplicam a todos e alguns sofrem mais do que outros. Agora, querer determinar que um pais solte um bandido, só se tiver "jogando" para a mídia, pois que é uma afronta, da mesma maneira que o foi acobertar um criminoso que não foi extraditado para a a Itália. Houve coerência entre não extraditar o criminoso e a intercessão pelo condenado à morte. continuar lendo

Então eles que (paguem) pra ver !
Meu falecido pai dizia :
' Cada um sabe de si '
Nesse caso também deve responder por si ! ( LEI é LEI )

Arriscaram , então ...! Aliás não deveria ter ninguém para se envolver na defessa desse tipo ! Claro que comprovadamente esclarecido o ' delito ' como o foi !
Bom dia ! continuar lendo

Exato, Helinton! Lei é Lei! O cara não foi pra lá não sabendo do risco que ele corria, e assumiu isso!

E já percebemos pelo relato que ele não era nenhum santo.

Eu defendo sim a soberania das leis de cada país. O brasileiro deveria estar preocupado com o pacote de medidas que nosso Ministro da Fazenda anunciou nessa semana, deveria se preocupar e por na ponta do lápis o quanto gastamos em $$ pelo tráfico de drogas, o quanto perdemos crianças, pais de família que as vezes não tem ligação direta com o sistema, mas o simples fato de ser da família de alguém, são "objetos" de pagamento de dívidas. E isso é só um dos exemplos. continuar lendo